a OBSERVATÓRIO DA PAX: setembro 2020

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Tempo da Criação: 4. Adoção de um estilo de vida simples

Adoção de um estilo de vida simples

Uma mudança nos estilos de vida poderia chegar a exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, económico e social. [...] Quando somos capazes de superar o individualismo, pode-se realmente desenvolver um estilo de vida alternativo e torna-se possível uma mudança relevante na sociedade. (Laudato Si', nn. 206.208)

Cuidar da nossa casa comum implica adotar um estilo de vida alternativo, mais simples que nos permita alcançar a paz connosco e com a Criação. Sobriedade no consumo de recursos e de energia: evitar os plásticos descartáveis, adotar dietas à base de vegetais e reduzir o consumo de carne e os gastos de água potável, fazer maior uso dos transportes públicos e evitar veículos poluentes, etc.

Para mais sugestões descarregue o folheto, da Pax Christi Portugal, 10 sugestões para um estilo de vida simples.


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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Tempo da Criação: 3. Economia ecológica

Economia ecológica

Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso. Além disso, muitas vezes a qualidade real de vida das pessoas diminui – pela deterioração do ambiente, a baixa qualidade dos produtos alimentares ou o esgotamento de alguns recursos – no contexto dum crescimento da economia. (Laudato Si', n. 194)

Importa repensar os critérios pelos quais julgamos o desenvolvimento económico. O lucro, o aumento do consumo, a instalação de grandes empresas, etc., não são sinais de um desenvolvimento económico a longo prazo, que respeite os recursos e ritmos da natureza, ou o crescimento pessoal e social de todos os seres humanos num ambiente de paz e justiça.

Como guardiões da casa comum temos de estar atentos e defender a produção sustentável, o comércio justo e solidário, o consumo ético, os investimentos éticos, o desinvestimento em combustíveis fósseis e qualquer outra atividade económica que possa causar danos ao planeta e aos seus habitantes, o investimento em energias renováveis, etc.

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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Tempo da Criação: 2. Resposta ao grito dos pobres

Resposta ao grito dos pobres

É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos. (Laudato Si', n. 229)

Dado que todos e tudo foi criado por Deus, toda a criação está interligada. Reconhecê-lo leva-nos a uma espiritualidade de solidariedade global, especialmente dando prioridade às necessidades dos que não se podem proteger e defender sozinhos: os pobres, os débeis e os vulneráveis. Exercer a solidariedade ajuda-nos a superar a tentação do individualismo, os interesses pessoais e a escutar o grito dos pobres.

Este caminho faz-se pela defesa da vida humana e de todas as formas de vida na Terra, com atenção especial aos grupos mais vulneráveis, incluindo comunidades indígenas, migrantes, refugiados, crianças em risco de escravidão, sem abrigo, desempregados, etc.

Como é que as nossas decisões diárias afetam os pobres? Por exemplo, na utilização dos recursos naturais, o emprego do nosso tempo e do nosso dinheiro, os locais onde fazemos compras, etc.



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domingo, 27 de setembro de 2020

Tempo da Criação: 1. Resposta ao grito da Terra

Resposta ao grito da Terra

Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspeto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa. (Laudato Si', n. 217)

Deus criou o mundo como um presente e como a nossa casa comum. Na beleza natural vemos os sinais do amor do nosso Pai por nós, da sua majestade e das suas bênçãos. Celebrar a beleza leva-nos mais longe, para além dos nossos interesses pessoais, em direção a um apreço e gratidão por toda a Criação. 

Para defender este presente que nos foi dado é essencial escutar o grito da Terra e demonstrar a nossa gratidão promovendo e defendendo um maior uso de energia limpa e renovável, redução dos combustíveis fósseis para alcançar a neutralidade das emissões de carbono, proteção e promoção da biodiversidade, acesso à água potável para todos, etc.


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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Peritos em paz atentos aos sinais dos tempos

A mudança de época que a humanidade vive é habitada por aquela que indiquei várias vezes como «uma terceira guerra mundial em pedaços ». Bem sabemos como o receio de um conflito mundial, capaz de destruir a humanidade inteira, marcou o nosso passado recente. São João XXIII dedicou a sua última Encíclica ao tema da paz, dirigindo-a a todos os homens de boa vontade [Carta enc. Pacem in terris]. E como deixar de recordar o apelo sincero lançado por São Paulo VI à Assembleia das Nações Unidas: «Jamais uns contra os outros, nunca mais!» (4 de outubro de 1965)?

Infelizmente, devemos constatar que hoje o mundo ainda está mergulhado num clima de guerra e violência recíproca: esta dolorosa realidade não só exige que mantenhamos vivo o apelo à paz, mas quase nos obriga a colocar-nos interrogações decisivas.

Por que num mundo onde a globalização derrubou tantas fronteiras, onde todos — diz-se — estamos interligados, ainda se continua a praticar violência nas relações entre os indivíduos e as comunidades?

Por que quem é diferente de nós muitas vezes nos assusta, de tal forma que tomamos uma atitude de defesa e suspeita que demasiadas vezes se torna agressão hostil?

Por que os governos dos Estados julgam que mostrar a própria força, até com atos de guerra, pode conferir- lhes maior credibilidade aos olhos dos seus cidadãos e aumentar o consenso de que gozam?

A estas e a outras perguntas não se pode responder de maneira genérica e apressada. É necessário um compromisso de estudo, é preciso investir também a nível da pesquisa científica e da formação das novas gerações. Foi por estes motivos que considerei necessário instituir na Pontifícia Universidade Lateranense um Ciclo de estudos sobre Ciências da paz, a partir da convicção de que a Igreja é chamada a empenhar-se «na solução de problemas que afetam a paz, a concórdia, o meio ambiente, a defesa da vida, os direitos humanos e civis» [Exort. ap. Evangelii gaudium, 65].

Neste compromisso «desempenha um papel central o mundo universitário, lugar símbolo daquele humanismo integral que tem continuamente necessidade de ser renovado e enriquecido, para que saiba produzir uma corajosa renovação cultural que o momento atual exige. Este desafio interpela inclusive a Igreja que, com a sua rede mundial de Universidades eclesiásticas, pode “oferecer o decisivo contributo de fermento, sal e luz do Evangelho de Jesus Cristo e da Tradição viva da Igreja, sempre aberta a novos cenários e propostas”, como recordei recentemente, reformando o ordenamento dos estudos académicos nas Instituições eclesiásticas [Cf. Const. ap. Veritatis gaudium, 2]. Sem dúvida, isto não significa alterar o sentido institucional e as tradições consolidadas das nossas realidades académicas mas, pelo contrário, orientar a sua função na perspetiva de uma Igreja mais acentuadamente “em saída” e missionária. Com efeito, é possível enfrentar os desafios do mundo contemporâneo com uma capacidade de resposta adequada nos conteúdos e compatível na linguagem, antes de tudo dirigindo-se às novas gerações» [Carta ao Cardeal De Donatis, por ocasião da instituição do Curso de estudos sobre “Ciências da Paz”, 12 de novembro de 2018].

[...]

Gostaria de realçar que um bom pacificador deve ser capaz de amadurecer um olhar sobre o mundo e a história, que não caia num «“excesso de diagnóstico”, que nem sempre é acompanhado por propostas resolutivas e realmente aplicáveis» [Exort. ap. Evangelii gaudium, 50]. Com efeito, trata-se de ir além de uma abordagem puramente sociológica, que tenha a pretensão de abranger toda a realidade de uma forma neutra e assética. Quem deseja tornar-se especialista em Ciências da Paz tem necessidade de aprender a estar atento aos sinais dos tempos: o gosto pela investigação científica e pelo estudo deve ser acompanhado por um coração capaz de compartilhar «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje» [Conc. Ecum. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 1], a fim de saber fazer um verdadeiro discernimento evangélico.

Precisamos realmente de homens e mulheres bem preparados, dotados de todos os instrumentos necessários para ler e interpretar as dinâmicas sociais, económicas e políticas do nosso tempo. Comprometer-se nestes percursos de formação poderá ser uma válida ajuda para muitos jovens descobrirem que «a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na família, a caridade social e a caridade política: é um compromisso concreto nascido da fé para a construção de uma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender o Reino de Deus no mundo» [Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 168].

Papa Francisco
Prefácio ao livro «Per un sapere della pace» (“Por um saber da paz”), publicado pela Libreria editrice vaticana (Cidade do Vaticano, 2020, 124 páginas)

Fonte: L'Osservatore Romano, Edição Semanal em Português, terça-feira 22 de setembro de 2020, p. 7

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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Um apelo ao Papa Francisco: O caminho da não-violência para um futuro Laudato Si'

A Igreja está a celebrar o quinto aniversário da Laudato Si'. Sobre o cuidado da casa comum, a carta encíclica do Papa Francisco que nos chama a uma nova compreensão de todas as ligações tecidas na criação. Neste tempo de crise é nítido que a não-violência é um pilar crucial na fundação de um mundo pós-pandémico mais justo e sustentável ao qual nos conduz a Laudato Si'.

Convidamos todas e todos (comunidades religiosas católicas, organizações, instituições educativas e indivíduos) a assinar esta mensagem dirigida ao Papa Francisco expressando a nossa gratidão pela sua liderança durante este tempo de crise e o nosso apoio aos ensinamentos da Laudato Si'.

O prazo para assinar termina a meados de setembro

Partilhe o link para esta mensagem o mais amplamente possível.



Um apelo ao Papa Francisco:
O caminho da não-violência para um futuro Laudato Si'

O coronavírus revelou as raízes profundas do racismo e da violência cultural, da injustiça económica, das guerras "travadas aos bocados", das mudanças climáticas e da destruição ambiental que a comunidade humana e o nosso planeta estão a enfrentar. A resposta à pandemia requer uma mudança fundamental do "normal injusto" da violência sistémica e estrutural em todo o mundo, de sistemas que destroem, desumanizam e diminuem, para uma cultura de solidariedade que busca a plenitude de vida para todos.

A não-violência ativa – uma espiritualidade, um modo de vida e um programa de ação social – é a chave para essa mudança global; para o roteiro apresentado em A caminho para o cuidado da casa comum; e para o futuro previsto na Laudato Si'. As duas mãos da não-violência falam claramente a este momento da história: "Não" às violências multidimensionais que assolam o nosso mundo; "Sim" à dignidade humana e ao respeito pela integridade da criação.

A não-violência é um caminho para a conversão, para uma profunda transformação pessoal e social da antiga forma de dominação e de exploração em direção a uma "civilização do amor" (Laudato Si', n. 231). A ética universal da não-violência pode moldar um novo e mais justo "normal" e guiar o crescente movimento massivo de pessoas comuns, incluindo muitos católicos, que anseiam pelo mundo pós-pandémico que o Papa Francisco nos ajudou a imaginar.

Para encorajar ainda mais um processo de conversão ecológica, cremos que uma reflexão complementar à Laudato Si' aprofundaria e alargaria consideravelmente a compreensão e o compromisso católicos da não-violência como um pilar crucial na fundação do desenvolvimento humano integral e de uma "casa comum" mais sustentável.

Estamos profundamente gratos pela esperança e visão que traz a estes tempos difíceis.


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