a OBSERVATÓRIO DA PAX: maio 2020

sexta-feira, 29 de maio de 2020

A Responsabilidade da Universidade pela Paz e pela Não-Violência

Artigo publicado na revista Educatio Catholica da Congregação para a Educação Católica do Vaticano, por Ken Butigan, membro do comité executivo da Iniciativa Católica para a Não-Violência e membro do corpo docente da Universidade DePaul.


Neste momento angustiante de violência e injustiça global, cada um de nós é chamado a lidar com esses desafios monumentais e a buscar um novo caminho, mais não-violento. As universidades estão particularmente bem posicionadas para desempenhar um papel de liderança nesta importante tarefa. Isto é especialmente verdade nas universidades católicas à luz da crescente aceitação pela Igreja institucional da ética universal da não-violência e à sua promoção de uma cultura de paz. Em termos teológicos cristãos, este é um momento Kairos - um momento de grande decisão, um momento para escolher um caminho a seguir em direção a um mundo mais não-violento - para o qual as instituições de ensino superior em todo o mundo estão a ser chamadas.

Este artigo examina a poderosa responsabilidade que as universidades católicas possuem para fomentar uma mudança não-violenta, ao refletir sobre as quatro questões seguintes:

* O caminho da paz e da não-violência não é uma especialização estreita, mas um apelo a todos

* O caminho da paz e da não-violência é uma ética abrangente

* O caminho da paz e da não-violência é cada vez mais reconhecido pela Igreja Católica institucional como uma ética central para a vida da Igreja e do mundo, e

* A universidade católica tem um papel especial na integração do caminho da paz e da não-violência na Igreja e no mundo. [...] Ler +

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terça-feira, 19 de maio de 2020

O rastilho das narrativas falsas

As narrativas falsas visam controlar as narrativas nos media e nas redes sociais, manipular a opinião pública, potenciar sentimentos de incerteza e minar os alicerces das democracias. Por isso, é fundamental conhecer a lógica tecnológica, social, política e económica das notícias falsas. Artigo de Rita Figueiras, Docente da Universidade Católica, publicado na revista Além-Mar.


No âmbito do 54.º Dia das Comunicações Sociais, o Santo Padre propõe uma reflexão sobre a importância da narração e da narrativa.

As histórias reais e de ficção têm um papel antropológico estrutural e estruturante na nossa cultura, nomeadamente na forma como: entendemos os valores e as práticas sociais, interpretamos a realidade, construímos a mundividência e a memória colectiva. Neste processo, as notícias, entendidas como um produto culturalmente situado, sinalizam questões e expressam conflitos considerados relevantes para a sociedade, excluindo do seu reportório narrativo acontecimentos que não servem a sua autodefinição.

Desinformação

Na mensagem do papa também encontramos referências às notícias falsas. A informação falsa visa controlar as narrativas nos media e nas redes sociais, manipular a opinião pública, potenciar sentimentos de incerteza e minar os alicerces das democracias. Tal como a designação sugere, estas narrativas são difíceis de identificar. Se algumas são construídas única e exclusivamente baseadas em mentiras, a maioria delas são mais difíceis de discernir, porque misturam informação verdadeira e falsa. É por esta razão que um estudo recente, feito por um instituto associado à reputada Universidade de Oxford, revela que as populações na maioria dos 38 países analisados têm elevados índices de preocupação com as narrativas falsas. Por exemplo, essa preocupação é partilhada por 85% dos brasileiros, por 75% dos portugueses e 70% dos britânicos.

Este receio reflecte a dúvida constante de quem procura e consome informação online, mas também de quem, sem estar à procura, se depara com algo que circula nas redes sociais: O que é verdade? O que é mentira? O que deve ser ignorado? E o que fazer com as notícias que se sabe que são falsas? Como alertar para o assunto sem amplificar as mentiras? Estas são dúvidas reais e que quotidianamente assaltam o espírito de muita gente em muitas partes do mundo. No entanto, em todos os tempos da História e nas mais variadas culturas, sempre houve notícias falsas, quer fosse, por exemplo, sob a forma de rumores ou de propaganda política. Então, porque é que de alguns anos a esta parte se começou a falar tanto em desinformação e em notícias falsas? [...] Ler +

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segunda-feira, 18 de maio de 2020

Papa Francisco: A paz deve ser procurada a qualquer preço

No passado dia 15 de abril, o Papa Francisco, ao retomar as catequeses sobre o tema das Bem-aventuranças, analisou a sétima: «Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).


Bom dia, estimados irmãos e irmãs!

A catequese de hoje é dedicada à sétima bem-aventurança, a dos “pacificadores”, que são proclamados filhos de Deus. Regozijo-me por ela se realizar imediatamente após a Páscoa, porque a paz de Cristo é fruto da sua morte e ressurreição, como ouvimos na Leitura de São Paulo. Para compreender esta bem-aventurança, é preciso explicar o sentido da palavra “paz”, que pode ser mal entendido ou, às vezes, banalizado.

Devemos orientar-nos entre duas ideias de paz: a primeira é a bíblica, onde aparece a maravilhosa palavra shalom, que exprime abundância, prosperidade, bem-estar. Quando em hebraico se deseja shalom, deseja-se uma vida boa, plena, próspera, mas também de acordo com a verdade e a justiça, as quais terão cumprimento no Messias, Príncipe da paz (cf. Is 9, 6; Mq 5, 4-5).

Depois há o outro sentido, mais generalizado, em que a palavra “paz” é entendida como uma espécie de tranquilidade interior: estou tranquilo, estou em paz. Esta é uma ideia moderna, psicológica e mais subjetiva. Pensa-se geralmente que a paz é sossego, harmonia, equilíbrio interior. Este conceito da palavra “paz” é incompleto e não pode ser absolutizado, porque na vida o desassossego pode ser um importante momento de crescimento. Muitas vezes é o próprio Senhor que semeia a inquietação em nós para irmos ao seu encontro, para o encontrarmos. Neste sentido, é um momento importante de crescimento; enquanto pode acontecer que a tranquilidade interior corresponda a uma consciência domesticada, e não a uma verdadeira redenção espiritual. Muitas vezes o Senhor deve ser um “sinal de contradição” (cf. Lc 2, 34-35), abalando as nossas falsas certezas para nos conduzir à salvação. E nesse momento parece que não temos paz, mas é o Senhor que nos coloca neste caminho para alcançarmos a paz que Ele próprio nos concederá.

Neste ponto devemos recordar que o Senhor entende a sua paz como diferente da humana, a do mundo, quando diz: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá» (Jo 14, 27). A de Jesus é outra paz, diferente da paz mundana.

Perguntemo-nos: como dá o mundo a paz? Se pensarmos nos conflitos bélicos, normalmente as guerras terminam de duas maneiras: ou com a derrota de uma das duas partes, ou com tratados de paz. Só podemos esperar e rezar para que se siga sempre este segundo caminho; mas temos de considerar que a história é uma série interminável de tratados de paz desmentidos por guerras sucessivas, ou pela metamorfose destas mesmas guerras em outras formas ou noutros lugares. Até no nosso tempo, uma guerra “aos pedaços” é travada em vários cenários e de diferentes formas (cf. Homilia no Sacrário Militar de Redipuglia, 13 de setembro de 2014; Homilia em Sarajevo, 6 de junho de 2015; Discurso ao Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, 21 de fevereiro de 2020). Devemos pelo menos suspeitar que, no contexto de uma globalização feita sobretudo de interesses económicos ou financeiros, a “paz” de uns corresponde à “guerra” de outros. E esta não é a paz de Cristo!

Ao contrário, como “dá” a sua paz o Senhor Jesus? Ouvimos São Paulo dizer que a paz de Cristo é “fazer de dois, um só” (cf. Ef 2, 14), anular a inimizade e reconciliar. E o caminho para realizar esta obra de paz é o seu corpo. Com efeito, Ele reconcilia todas as coisas e faz as pazes com o sangue da sua cruz, como o mesmo Apóstolo diz noutro lugar (cf. Cl 1, 20).

E aqui interrogo-me: todos podemos perguntar-nos: portanto, quem são os “pacificadores”? A sétima bem-aventurança é a mais ativa, explicitamente operativa; a expressão verbal é análoga àquela utilizada para a criação no primeiro versículo da Bíblia e indica iniciativa e laboriosidade. O amor pela sua natureza é criativo - o amor é sempre criativo - e procura a reconciliação custe o que custar. São chamados filhos de Deus aqueles que aprenderam a arte da paz e que a praticam, sabem que não há reconciliação sem o dom da própria vida, e que a paz deve ser procurada sempre e de todas as formas. Sempre e de todas as formas: não vos esqueçais disto! Deve ser procurada assim. Esta não é uma obra autónoma, fruto das próprias capacidades; é manifestação da graça recebida de Cristo, que é a nossa paz, que nos fez filhos de Deus.

O verdadeiro shalom e o autêntico equilíbrio interior brotam da paz de Cristo, que vem da sua Cruz e gera uma nova humanidade, encarnada numa infinita plêiade de Santos e Santas, inventivos e criativos, que conceberam formas sempre novas de amar. Os Santos e as Santas que edificam a paz. Esta vida de filhos de Deus, que pelo sangue de Cristo procuram e reencontram os seus irmãos, é a verdadeira felicidade. Bem-aventurados aqueles que seguem este caminho.

E de novo Feliz Páscoa a todos, na paz de Cristo!

Papa Francisco, Audiência geral de quarta-feira, 15 de abril.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2020/documents/papa-francesco_20200415_udienza-generale.html

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domingo, 17 de maio de 2020

COVID-19: Rumo à segurança autêntica enraizada na não-violência


A seguinte reflexão foi escrita por Marie Dennis, membro do comité executivo da Iniciativa Católica para a Não-Violência e consultora sénior da secretária geral da Pax Christi Internacional. Foi co-presidente da Pax Christi Internacional de 2007 a 2019.

O coronavírus abalou comunidades em todo o mundo, ameaçando meios de subsistência e vidas, forçando uma mudança antes impensável nas rotinas diárias, ajudando todos a reconhecer a fragilidade da vida e a profunda injustiça que deixa bastantes pessoas, comunidades e países muito mais vulneráveis do que outros. Ao mesmo tempo, o impacto da pandemia está a ser sentido universalmente ao cruzar fronteiras políticas, geográficas, económicas, sociais, religiosas e culturais, ilustrando vigorosamente a realidade da interdependência global e questionando os nossos pressupostos básicos sobre segurança e sobre as políticas de medo e divisão.

Talvez esta pandemia nos ajude a reconhecer a necessidade crítica de uma mudança transformadora da violência nos nossos valores e prioridades. Algumas razões pelas quais esta mudança é urgente são claramente visíveis:

• Aqueles que vivem nas margens, expostos a guerras e deslocações forçadas, pobreza e perturbações ambientais, são os mais vulneráveis aos estragos da pandemia. As violências da injustiça económica e da devastação ecológica são intensificadas por esta crise global. As prioridades nacionais e internacionais devem ser determinadas e responder às necessidades das comunidades mais vulneráveis.

• A experiência do distanciamento social radical ajudou-nos a reconhecer a centralidade dos relacionamentos nas nossas vidas e a importância da comunidade. Mesmo em culturas em que o individualismo é considerado como um valor eminente, à medida que o coronavírus nos isola, estamos a construir pontes seguras, muitas delas virtuais, para cuidar uns dos outros e das pessoas em maior risco.

• O coronavírus não respeita fronteiras políticas, barreiras físicas ou diferenças culturais. Responder de forma eficaz às ameaças transnacionais requer cooperação global respeitosa para promover o bem-estar de toda a comunidade terrestre, em vez de xenofobia e nacionalismo.

• Gastar centenas de milhares de milhões de dólares anualmente em armas e preparativos para a guerra não nos deu as ferramentas para lidar com uma pandemia global. De facto, os gastos militares roubam recursos necessários para criar comunidades saudáveis e resilientes em todo o país e em todo o mundo, que possam atrasar a propagação de doenças e recuperar mais rapidamente de ameaças graves, como a pandemia do COVID-19.

Este momento de crise exige urgentemente um novo entendimento de segurança, baseado em diplomacia, diálogo, reciprocidade e uma abordagem multilateral e colaborativa para resolver problemas globais bem reais e críticos. O nacionalismo e o unilateralismo minam a cooperação necessária para lidar com doenças, incluindo o COVID-19 e o ébola, bem como as alterações climáticas, a fome e a pobreza, o esgotamento de recursos, a guerra, a deslocação forçada de milhões de pessoas, o terrorismo, a proliferação de armas e outras ameaças que transcendem fronteiras nacionais.

A segurança autêntica na qual toda a comunidade terrestre pode prosperar só poderá emergir de uma globalização da solidariedade enraizada na não-violência que comprometa as diversas nações e povos, independentemente das diferenças, na promoção de comunidades sustentáveis baseadas em economias do “suficiente” e no favorecimento de segurança humana inclusiva baseada na justiça social, económica e ecológica.

Catholic Nonviolence Initiative

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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Encontro virtual “Boas práticas, conquistas e perspetivas de futuro a favor da paz e da não-violência”


A Pax Christi Internacional está a celebrar este ano 75 anos de existência e, não fosse a situação atual de pandemia/confinamento, estaria prestes a ter início no Japão a sua Assembleia Mundial.

Em Portugal tínhamos planeado realizar um encontro da Pax Christi no dia 16 de maio, no novo espaço onde instalámos a sede (Basílica da Estrela). Tal não sendo possível e porque não queremos adiar mais este encontro vimos convidar-vos a participar um encontro virtual a ter lugar no dia 6 de junho, entre as 15:00 e as 17:00, para conversar e refletir sobre “Boas práticas, conquistas e perspetivas de futuro a favor da paz e da não-violência”.

Reservem a data na vossa agenda e contamos com a vossa participação.

Para participar neste encontro siga o link abaixo:
https://meetingsemea11.webex.com/meetingsemea11/j.php?MTID=mca7ae14cd7cda84143dc3151c2ac0614

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