a OBSERVATÓRIO DA PAX: dezembro 2022

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Dia Mundial da Paz 2023

Dia Mundial da Paz de 2023
"Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da Covid-19 para traçar sendas de paz”


Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2023, o Papa faz um convite a refletir sobre as lições deixadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia e indica o caminho para a paz: "É juntos, na fraternidade e solidariedade, que construímos a paz, garantimos a justiça, superamos os acontecimentos mais dolorosos."

"É hora de pararmos um pouco para nos interrogar, aprender, crescer e deixar transformar": este é o convite do Papa Francisco contido na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2023, celebrado no 1º de janeiro.

O tema escolhido pelo Pontífice é "Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da Covid-19 para traçar sendas de paz".

O segredo, aponta o Papa, está na palavra "juntos".

“De facto, as respostas mais eficazes à pandemia foram aquelas que viram grupos sociais, instituições públicas e privadas, organizações internacionais, unidos para responder ao desafio, deixando de lado interesses particulares."

Mas quando o mundo ainda se recuperava do trauma, eis que outro facto colocou a humanidade à dura prova: a guerra na Ucrânia. Francisco fala de "desgraça", "flagelo" que, diferentemente do Covid, foi pilotado por "opções humanas culpáveis". A guerra ceifa vítimas inocentes e as suas consequências vão além-fronteiras, como demonstram o aumento do preço do trigo e energia.

"Não era esta, sem dúvida, a estação pós-Covid que esperávamos ou por que ansiávamos", lamenta o Pontífice, definindo a guerra uma "derrota da humanidade" para a qual ainda não há vacina.

"Com certeza, o vírus da guerra é mais difícil de derrotar do que aqueles que atingem o organismo humano, porque o primeiro não provem de fora, mas do íntimo do coração humano, corrompido pelo pecado."

E vem a última pergunta: "Que fazer?"

Antes de mais nada, deixar que Deus transforme os nossos corações. E depois, pensar em termos comunitários. Não existe mais o espaço dos nossos interesses pessoais ou nacionais, mas "é hora de nos comprometermos todos em prol da cura da nossa sociedade e do nosso planeta".

E os desafios, infelizmente, não são poucos: guerras, alterações climáticas, desigualdades, desemprego, migração e o "escândalo dos povos famintos".

"Compartilho estas reflexões com a esperança de que, no novo ano, possamos caminhar juntos valorizando tudo o que a história nos pode ensinar", conclui o Santo Padre.

Adaptado de artigo de Bianca Fraccalvieri – Vatican News


Texto para ajudar a reflexão neste Dia Mundial da Paz

Arrisquemos o perigoso sonho da paz, proclamando a sua possibilidade, concebendo a cura dos conflitos que dividem o nosso mundo e dividem também os nossos próprios corações. Vamos desistir de frustrações e de uma aceitação resignada de "o mundo é assim" como uma inevitabilidade. 

Vamos tomar a sério a saudação enviada por São Paulo aos seus amigos de Corinto há quase 2.000 anos: “Que Deus, nosso Pai, e Jesus Cristo, nosso Senhor, vos deem graça e paz”. Ámen a isto! 

Mas o que significa, abraçar este dom? O que teria de mudar em nós e nos outros? Como teria de mudar o mundo para fazer isto acontecer, e como esta Paz poderia mudar o mundo?

Pode ser útil usar aqui a nossa imaginação, em vez de simplesmente enumerar os passos que nos podem levar do conflito ativo até ao fim da divisão. 

Simplesmente permitindo a possibilidade de que as nossas vidas sejam vividas sob a bandeira da graça e da paz e se tornem sinais destas mesmas duas qualidades – graça e paz – o nosso ser é mudado e o nosso destino é mudado.

E, enquanto estamos aqui, imaginemos também quais as qualidades que seriam necessárias num verdadeiro construtor da paz. Talvez o salmo 39 (40) possa ser o nosso guia. O refrão leva-nos ao ponto de partida certo: "Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade": por um lado, a capacidade de estar presente no momento, em vez de dilacerado e distraído – aqui estou; por outro lado, uma abertura de coração, um desejo de que a minha vida seja mais do que só para mim. É o que o salmista chama de "esperar no Senhor", um encontro que começa a mudar a minha forma de pensar e a minha forma de falar. "(O Senhor) Pôs em meus lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus". Para ser pacificadores, temos de ser pessoas cujas palavras edificam em vez de deitarem abaixo, portadores de esperança que se recusam a ceder ao cinismo preguiçoso.

O construtor da paz é também alguém que escuta: "Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações, mas abristes-me os ouvidos". Sim, isso significa escutar a Palavra de Deus, mas significa também escutar a realidade em que vivemos, escutando especialmente o grito dos pobres e excluídos, as vozes incómodas da dor, mesmo as vozes daqueles que chamamos de "inimigos". Por que é que nos temem? Por que é que, às vezes, nos odeiam?

Antes de podermos esperar pela paz, devemos ser capazes de enfrentar qualquer sombra que impeça o nosso encontro com os nossos irmãos e irmãs num lugar de luz, seja o peso da história ou o peso de estruturas injustas (deles e nossas).

No entanto, além de ouvir, é necessário algo mais, uma vontade de defender a justiça e de falar contra a opressão. O caminho para a paz de coração, mesmo que pareça arrastar-nos para campos de conflito, é poder dizer o que confessa o antigo poeta: "Proclamei a justiça ... não fechei os meus lábios". A justiça de Deus, não a minha justiça; a visão de Deus do florescimento do mundo, não os meus pequenos planos, projetos e preconceitos.

"Se queres a paz, prepara-te para a guerra", escreveu certa vez o antigo general romano Vegetius. Mas todos os nossos preparativos para a guerra ao longo de muitas gerações não nos trouxeram paz. É hora de corrigir esse velho ditado, pelo menos para os cristãos. 

Se queres a paz, põe-te ao serviço da graça de Deus: espera no Senhor; canta o novo cântico de esperança que tem as suas raízes no Evangelho; aprende a ouvir aqueles que aprendemos a ignorar – especialmente as vozes dos pobres e excluídos, mas também os rancores dos nossos inimigos, para tentar entender melhor os nossos conflitos; e, em último caso, recusa-te a ficar calado. Fala pela justiça e contra a opressão, mas sem rancor nem ódio. Que a graça e a paz estejam no coração de tudo o que fazemos e dizemos. 

Traduzido e adaptado de 2023 Peace Sunday Liturgy Booklet, Pax Christi UK, Homily Notes – First Reflection


Proposta de atividade


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