Semeai palavras de bem... Reflexões para o Advento 2020 - 1ª Semana
No mundo digital estão em jogo ingentes interesses económicos, capazes de fomentar formas de controlo tão subtis como invasivas, criando mecanismos de manipulação das consciências e do processo democrático. O funcionamento de muitas plataformas acaba por favorecer, amiúde, o encontro entre pessoas que pensam do mesmo modo, dificultando a confrontação entre as diferenças. Estes circuitos fechados facilitam a divulgação de informações e notícias falsas, fomentando preconceitos e ódios. A proliferação das fake news é expressão de uma cultura que perdeu o sentido da verdade e submete os factos a interesses particulares. A reputação das pessoas corre perigo mediante julgamentos sumários online. Tal fenómeno também afeta a Igreja e os seus pastores.
REFLEXÃO
PAPA FRANCISCO, Cristo vive. Exortação Apostólica pós-sinodal, 2019, n. 89
REFLEXÃO
O oitavo mandamento, «não levantarás falso testemunho», já deixou de se recomendar até às crianças. Está espalhado o hábito de introduzir distinções que preveem mentiras boas, mentiras úteis, até indispensáveis. […]
A virtude que impede o falso testemunho é a sinceridade. É uma virtude que está diretamente ligada à verdade: em relação à própria pessoa, aos outros e a Deus. Quem é sincero consigo próprio tem a capacidade de honrar a sua dignidade, referenciando-se às leis morais e civis em que acredita. É uma questão de seriedade. […]
As ofensas à verdade são muitas. A mais grave é a mentira: dizer a falsidade para enganar. É um pecado que parece desaparecido. Simplesmente, transformou-se, tornando-se até tendência.
O exemplo mais evidente é o uso da internet. Por causa de interesses deploráveis, inserem-se fake news na rede. Para amaciar o impacto usa-se a língua inglesa, quando muitas vezes se escrevem e propõem mentiras pensadas, redigidas e comunicadas para denegrir, declarando o falso. Nem sequer as leis penais dos Estados predispuseram instrumentos adequados que condenem o fenómeno. Em nome da privacy – na realidade, por interesses económicos – criam-se danos em pessoas, grupos, nações. Desencadeiam-se processos que determinam um modo de sentir comum, impelindo para a não obrigatoriedade da verdade, e, consequentemente, limpando a mentira. […]
A nossa cultura, com referências morais firmes que remontam aos tempos antigos, tem dificuldade em chamar à mentira o seu verdadeiro nome. É um pecado gravíssimo porque, baseando-se na boa-fé das pessoas, cria um costume que deixa em suspenso a referência moral.
São também numerosos os pecados contra a boa fama do próximo: o juízo temerário verifica-se quando se admite como verdadeira uma presumida culpa de um outro. A difamação pode exprimir-se em maledicência (dizer mal do outro), em murmuração (feita sem que o outro o saiba), e, por fim, em calúnia (atribuir defeitos aos outros) (cf. Catecismo da Igreja Católica nn. 2475-2480). Parecem pecados característicos das “comadres” que murmuram sobre tudo e sobre todos. Na realidade, são muitas vezes cometidos por inveja, para garantir o sucesso pessoal, por simples maldade, frequentemente misturados com amargura e reivindicações. […]
Há uma maneira mais subtil de não dizer a verdade: é a lisonja que pode tornar-se adulação, para chegar à complacência.
Permanecer na verdade hoje é difícil: o ambiente é artificial, as pressões são enormes, as ocasiões para a superficialidade são diárias. Só um grande esforço para viver uma espiritualidade alta, atenta aos valores, ao respeito pelos outros, permite não transgredir o oitavo mandamento.
Essa atitude pode ser sintetizada na humildade. A capacidade de compreender antes de tudo os próprios limites, que, por sua vez, se traduz na correção das relações. Esta posição ajuda a ser-se leal, sem condescender em perdões superficiais. […]
A perspetiva evangélica requer limpidez. A liberdade de se ser fiel à verdade, mas também a sua busca e a coragem de professá-la. No tempo do pensamento globalizado, é um útil apelo à justiça, à compreensão, à construção de uma identidade corajosa e transparente.
VINICIO ALBANESI, Ottavo, non dire falsa testimonianza.
In http://www.settimananews.it/teologia/ottavo-non-dire-falsa-testimonianza.
In http://www.settimananews.it/teologia/ottavo-non-dire-falsa-testimonianza.
Etiquetas: ADVENTO, ADVENTO 2020, CULTURA DA PAZ E NÃO-VIOLÊNCIA, EDUCAÇÃO PARA A PAZ E A NÃO-VIOLÊNCIA, ESPIRITUALIDADE E TEOLOGIA DA PAZ
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