a OBSERVATÓRIO DA PAX: Semeai palavras de bem... Reflexões para o Advento 2020 - 4ª Semana

domingo, 20 de dezembro de 2020

Semeai palavras de bem... Reflexões para o Advento 2020 - 4ª Semana


O ambiente digital também é um território de solidão, manipulação, exploração e violência, até chegar ao caso extremo da dark web. Os meios de comunicação digitais podem encerrar o risco de dependência, de isolamento e de progressiva perda de contacto com a realidade concreta, levantando obstáculos ao desenvolvimento de relações interpessoais autênticas. Novas formas de violência são difundidas mediante os social media, por exemplo, o ciberassédio [...].
PAPA FRANCISCO, Cristo vive. Exortação Apostólica pós-sinodal, 2019, n. 88


REFLEXÃO

A propósito do novo livro lançado por Cristina Ferreira, “Pra Cima de Puta”, os portugueses viram-se confrontados com a nova realidade do século XXI, o cyberbullying. E se o título do livro é forte, duro e agressivo, o cyberbullying não fica atrás. Trata-se de assédio virtual, invasivo da privacidade, agressivo, injurioso e difamador. Consiste na “divulgação pública de conteúdos textuais, visuais e áudio que depreciem ou desacreditem alguém (ou um grupo), assim como a intimidação, ameaça e perseguição através de mensagens privadas que ocorra de forma sistemática, recorrente e intencional”. Cabem aqui desde comentários injuriosos, ofensivos, ameaças, humilhações, divulgação de imagens de teor sexual, usurpação de fotografias para colocar em sites de encontros, roubo de identidade, criação de perfis falsos em redes sociais, … 
A internet figura entre as mais importantes ferramentas de pesquisa, utilizada por todos [...]. E se disponibiliza todo um sem fim de informação e lazer social, útil e pertinente, também nos trouxe o cyberbullying, um território carregado com o claro propósito de prejudicar alguém, onde não há margem para o “não tinha intenção”. A intenção é clara e inequívoca: atacar, perseguir, denegrir e fazer mal, quer se trate ou não de uma figura pública, quer se conheça ou não pessoalmente. A troco de nada [...] passam a ser o alvo perfeito de ataques, ao sabor de um ódio tornado público. Com recurso muitas vezes a perfis falsos, homens e mulheres, jovens e adultos, escondidos por um écran, num sentimento de impunidade, vão destilando ódio nas redes sociais, de forma cobarde, criminosa e censurável. 
É preciso dizer que não são apenas as figuras públicas os alvos dos ataques. Somos (ou podemos ser) todos. Quando menos se espera podemos estar a ser perseguidos, vítimas da obsessão de alguém, que passa a enviar todo o tipo de mensagens e comentários, ofensivos e ameaçadores. E se há quem ignore essas vozes que desconhecem a bondade, a tolerância e o respeito, há muitos outros, e de forma especial os mais jovens, que sofrem o pão que o diabo amassou. Foi o caso de Amanda Todd, vítima desde os 12 anos de cyberbullying e que aos 15 se suicidou… 
Quando abro um vídeo que revela a intimidade sexual de alguém que não consentiu na divulgação, quando partilho uma foto que atenta contra os direitos de outra pessoa, estou a ser cúmplice e a alimentar o cyberbullying, estou a contribuir para colocar em marcha a corrente de maldade que corrói e abala as estruturas da humanidade no século XXI. E isto precisa ser dito, precisa ser educado, precisa ser ensinado, sob pena de tudo isto passar a ser encarado com normalidade. [...]
CARLA RODRIGUES, Quando um teclado me define.
In Igreja Viva. Suplemento do Diário do Minho. 3 de dezembro 2020, p. 2.

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