a OBSERVATÓRIO DA PAX: dezembro 2019

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Fazei desabrochar a Paz... Reflexões para o Advento 2019 - 4ª Semana


Fazei desabrochar a Paz...

4ª SEMANA

A paz é uma conversão do coração e da alma, sendo fácil reconhecer três dimensões indissociáveis: a paz consigo mesmo; a paz com o outro; a paz com a criação.

PAPA FRANCISCO, «A boa política está ao serviço da paz». Mensagem para a celebração do dia mundial da paz 2019, n. 7


REFLEXÃO

A paz está relacionada com o desenvolvimento sustentável e a integridade da criação. O contexto atual de desigualdade e “globalização da indiferença” é uma grave ameaça à paz. A educação para a paz precisa, portanto, de integrar perspetivas de desenvolvimento e ecologia que visem erradicar a pobreza e a injustiça, proteger o meio ambiente, garantir o desenvolvimento de toda pessoa e da pessoa toda, bem como promover a harmonia e a estabilidade de toda a criação. A atual crise ecológica é uma crise do ego, que é profundamente prejudicial para a paz e o bem-estar de todos. A ameaça que as alterações climáticas representam para a Terra, a “nossa casa comum”, convoca-nos a incluir o compromisso ecológico como um aspeto integral da educação para a paz. Há uma necessidade de introduzir programas educativos que promovam uma maneira nova e interdependente de pensar sobre as nossas relações com o divino, o humano e a natureza. Tal educação pode ocorrer em contextos variados: famílias, escolas, comunidades religiosas, lugares de trabalho e meios de comunicação.

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO e CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS, Educação para a paz num mundo multirreligioso: Perspetiva Cristã, 2019, pp. 16.

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

53º Dia Mundial da Paz 2020 - A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica

MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
DIA MUNDIAL DA PAZ

1º DE JANEIRO DE 2020



«A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA:
DIÁLOGO, RECONCILIAÇÃO E CONVERSÃO ECOLÓGICA»



1. A paz, caminho de esperança face aos obstáculos e provações

A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes até custoso, «pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho»[1]. Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis.

A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos.

As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.

Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo facto de não se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemónicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso.

Como fiz notar durante a recente viagem ao Japão, é paradoxal que «o nosso mundo viva a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo. A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã»[2].

Toda a situação de ameaça alimenta a desconfiança e a retirada para dentro da própria condição. Desconfiança e medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.

Por isso, não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconómicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros[3]. Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança atualmente prevalecente?

Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada de menos.

2. A paz, caminho de escuta baseado na memória, solidariedade e fraternidade

Os sobreviventes aos bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui – denominados os hibakusha – contam-se entre aqueles que, hoje, mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu em agosto de 1945 e os sofrimentos indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje. Assim, o seu testemunho aviva e preserva a memória das vítimas, para que a consciência humana se torne cada vez mais forte contra toda a vontade de domínio e destruição. «Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno»[4].

Como eles, há muitos, em todas as partes do mundo, que oferecem às gerações futuras o serviço imprescindível da memória, que deve ser preservada não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz presentes e futuras.

Mais ainda, a memória é o horizonte da esperança: muitas vezes, na escuridão das guerras e dos conflitos, a lembrança mesmo dum pequeno gesto de solidariedade recebida pode inspirar opções corajosas e até heroicas, pode colocar em movimento novas energias e reacender nova esperança nos indivíduos e nas comunidades.

Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades.

O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações. De facto, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade mais além das ideologias e das diferentes opiniões. A paz é uma construção que «deve estar constantemente a ser edificada»[5], um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o direito. Na escuta mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do outro, até ao ponto de reconhecer no inimigo o rosto dum irmão.

Por conseguinte, o processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte que a vingança. Num Estado de direito, a democracia pode ser um paradigma significativo deste processo, se estiver baseada na justiça e no compromisso de tutelar os direitos de cada um, especialmente se vulnerável ou marginalizado, na busca contínua da verdade[6]. Trata-se duma construção social em contínua elaboração, para a qual cada um presta responsavelmente a própria contribuição, a todos os níveis da comunidade local, nacional e mundial.

Como assinalava o Papa São Paulo VI, «a dupla aspiração – à igualdade e à participação – procura promover um tipo de sociedade democrática. (...). Isto, de per si, já diz bem qual a importância de uma educação para a vida em sociedade, em que, para além da informação sobre os direitos de cada um, seja recordado também o seu necessário correlativo: o reconhecimento dos deveres de cada um em relação aos outros. O sentido e a prática do dever são, por sua vez, condicionados pelo domínio de si mesmo, pela aceitação das responsabilidades e das limitações impostas ao exercício da liberdade do indivíduo ou do grupo»[7].

Pelo contrário, a fratura entre os membros duma sociedade, o aumento das desigualdades sociais e a recusa de empregar os meios para um desenvolvimento humano integral colocam em perigo a prossecução do bem comum. Inversamente, o trabalho paciente, baseado na força da palavra e da verdade, pode despertar nas pessoas a capacidade de compaixão e solidariedade criativa.

Na nossa experiência cristã, fazemos constantemente memória de Cristo, que deu a sua vida pela nossa reconciliação (cf. Rm 5, 6-11). A Igreja participa plenamente na busca duma ordem justa, continuando a servir o bem comum e a alimentar a esperança da paz, através da transmissão dos valores cristãos, do ensinamento moral e das obras sociais e educacionais.

3. A paz, caminho de reconciliação na comunhão fraterna

A Bíblia, particularmente através da palavra dos profetas, chama as consciências e os povos à aliança de Deus com a humanidade. Trata-se de abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se mutuamente como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos. O outro nunca há de ser circunscrito àquilo que pôde ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo. Somente escolhendo a senda do respeito é que será possível romper a espiral da vingança e empreender o caminho da esperança.

Guia-nos a passagem do Evangelho que reproduz o seguinte diálogo entre Pedro e Jesus: «“Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”» (Mt 18, 21-22). Este caminho de reconciliação convida-nos a encontrar no mais fundo do nosso coração a força do perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs. Aprender a viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz.

O que é verdade em relação à paz na esfera social, é verdadeiro também no campo político e económico, pois a questão da paz permeia todas as dimensões da vida comunitária: nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema económico mais justo. Como escreveu Bento XVI, «a vitória sobre o subdesenvolvimento exige que se atue não só sobre a melhoria das transações fundadas sobre o intercâmbio, nem apenas sobre as transferências das estruturas assistenciais de natureza pública, mas sobretudo sobre a progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de atividade económica caraterizadas por quotas de gratuidade e de comunhão»[8].

4. A paz, caminho de conversão ecológica

«Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar»[9].

Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos duma conversão ecológica.

O Sínodo recente sobre a Amazónia impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.

Este caminho de reconciliação inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum. De facto, os recursos naturais, as numerosas formas de vida e a própria Terra foram-nos confiados para ser «cultivados e guardados» (cf. Gn 2, 15) também para as gerações futuras, com a participação responsável e diligente de cada um. Além disso, temos necessidade duma mudança nas convicções e na perspetiva, que nos abra mais ao encontro com o outro e à receção do dom da criação, que reflete a beleza e a sabedoria do seu Artífice.

De modo particular brotam daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana.

Por conseguinte a conversão ecológica, a que apelamos, leva-nos a uma nova perspetiva sobre a vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha. Esta conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida. Para o cristão, uma tal conversão exige «deixar emergir, nas relações com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus»[10].

5. Obtém-se tanto quanto se espera[11]

O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos.

Trata-se, antes de mais nada, de acreditar na possibilidade da paz, de crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós. Nisto, pode-nos inspirar o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável.

O medo é, frequentemente, fonte de conflito. Por isso, é importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24). A cultura do encontro entre irmãos e irmãs rompe com a cultura da ameaça. Torna cada encontro uma possibilidade e um dom do amor generoso de Deus. Faz-nos de guia para ultrapassarmos os limites dos nossos horizontes estreitos, procurando sempre viver a fraternidade universal, como filhos do único Pai celeste.

Para os discípulos de Cristo, este caminho é apoiado também pelo sacramento da Reconciliação, concedido pelo Senhor para a remissão dos pecados dos batizados. Este sacramento da Igreja, que renova as pessoas e as comunidades, convida a manter o olhar fixo em Jesus, que reconciliou «todas as coisas, pacificando pelo sangue da sua cruz, tanto as que estão na terra como as que estão no céu» (Col 1, 20); e pede para depor toda a violência nos pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a criação.

A graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições. Recebido o seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para ir oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz.

Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda.

Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação.

E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si.

Vaticano, 8 de dezembro de 2019.

Franciscus



[1] Bento XVI, Carta enc. Spe salvi, 30 de novembro de 2007, 1.

[2] Discurso sobre as armas nucleares, Nagasáqui – Parque «Atomic Bomb Hypocenter», 24 de novembro de 2019.

[3] Cf. Francisco, Homilia em Lampedusa, 8 de julho de 2013.

[4] Francisco, Discurso sobre a Paz, Hiroxima – Memorial da Paz, 24 de novembro de 2019.

[5] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 78.

[6] Cf. Bento XVI, Discurso aos dirigentes e membros das Associações Cristãs dos Trabalhadores Italianos (ACLI), 27 de janeiro de 2006.

[7] Carta ap. Octogesima adveniens, 14 de maio de 1971, 24.

[8] Carta enc. Caritas in veritate, 29 de junho de 2009, 39.

[9] Francisco, Carta enc. Laudato si’, 24 de maio de 2015, 200.

[10] Ibid., 217.

[11] Cf. São João da Cruz, Noite Escura, II, 21, 8.

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Fazei desabrochar a Paz... Reflexões para o Advento 2019 - 3ª Semana


Fazei desabrochar a Paz...

3ª SEMANA

Na social web, muitas vezes a identidade funda-se na contraposição ao outro, à pessoa estranha ao grupo: define-se mais a partir daquilo que divide do que daquilo que une, dando espaço à suspeita e à explosão de todo o tipo de preconceito (étnico, sexual, religioso, e outros).

PAPA FRANCISCO, “Somos membros uns dos outros” (Ef 4,25): Das comunidades de redes sociais à comunidade humana. Mensagem para o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais


REFLEXÃO

“A verdade vos libertará” (João 8,32). A comunicação faz parte do plano de Deus para conduzir os seres humanos ao reconhecimento da verdade e à afirmação da liberdade e da fraternidade universal. O uso negativo das tecnologias de informação e comunicação para promover discórdia e conflito é bem conhecido. Nesta era da comunicação de massa, é importante, portanto, usar adequadamente os meios de comunicação social e os outros meios de comunicação como instrumentos de educação para a paz, levando em consideração os aspetos práticos e as necessidades locais. Isto é crucial para combater a disseminação das “notícias falsas”.

A este propósito, é importante criar programas educativos voltados para o desenvolvimento de capacidades para identificar e combater o flagelo das informações tendenciosas e infundadas, bem como as narrativas xenófobas.

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO e CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS, Educação para a paz num mundo multirreligioso: Perspetiva Cristã, 2019, pp. 13.

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Fazei desabrochar a Paz... Reflexões para o Advento 2019 - 2ª Semana


Fazei desabrochar a Paz...

2ª SEMANA

Nestes tempos, em particular, vivemos num clima de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, na ansiedade pela perda das próprias vantagens, e manifesta-se também, infelizmente, a nível político mediante atitudes de fechamento ou nacionalismos que colocam em questão aquela fraternidade de que o nosso mundo globalizado tanto precisa.

PAPA FRANCISCO, «A boa política está ao serviço da paz». Mensagem para a celebração do dia mundial da paz 2019, n. 5


REFLEXÃO

A educação deve encorajar uma visão positiva dos seres humanos que são diferentes de nós em matéria de etnia ou religião e que são frequentemente referidos como o “outro” (cf. Mateus 7,12). É preciso apurar qualquer inadequação e imprecisão na apresentação de outras religiões ou comunidades minoritárias, em situações em que os membros de um determinado grupo religioso ou étnico controlam os sistemas educativos e os planos curriculares. Tal parcialidade contra as minorias pode afetar não só o plano curricular da educação religiosa, mas também a de outras disciplinas, como história e literatura. Pode também estimular a perceção de que os membros da “outra” comunidade não são cidadãos de pleno direito nem em pé de igualdade, ou que não contribuíram para a construção da nação. É essencial que em todos os países a aprendizagem sobre a fé e a experiência de tais “outros” faça parte integrante da educação, preferencialmente de uma forma que permita a esses outros contribuírem para o processo. Para evitar distorções ou invisibilidades, é essencial que os livros didáticos que são usados para ensinar sobre a fé e a história das comunidades religiosas minoritárias sejam escritos, ou pelo menos revistos, por representantes das próprias comunidades. Além disso, os membros de todas as comunidades religiosas necessitam de uma sólida formação na sua própria tradição religiosa, bem como uma boa informação sobre o outro, como uma base para o diálogo. Ao aprenderem sobre a sua própria tradição religiosa, as pessoas precisam de o fazer de um modo que não promova a arrogância.

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO e CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS, Educação para a paz num mundo multirreligioso: Perspetiva Cristã, 2019, pp. 12-13.

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domingo, 1 de dezembro de 2019

Fazei desabrochar a Paz... Reflexões para o Advento 2019 - 1ª Semana


Fazei desabrochar a Paz...

1ª SEMANA

Oferecer a paz está no coração da missão dos discípulos de Cristo. E esta oferta é feita a todos os homens e mulheres que, no meio dos dramas e violências da história humana, esperam na paz.

PAPA FRANCISCO, «A boa política está ao serviço da paz». Mensagem para a celebração do dia mundial da paz 2019, n. 1


REFLEXÃO

Cristo é a nossa paz (cf. Efésios 2,14). O elo entre Jesus Cristo e a paz está no centro da fé cristã e reflete-se no seu nascimento, morte na cruz e ressurreição, e o envio do Espírito Santo. O nascimento de Cristo é marcado por um anúncio divino de paz (cf. Lucas 2,14). A principal palavra e dom do Senhor Ressuscitado aos seus discípulos é a paz (cf. Lucas 24,36; João 20,21). É um dom único – «Não a dou como o mundo a dá» (João 14,27) –, pois elimina o mal e a violência pela raiz.
Como beneficiários do dom da paz de Cris-to, os seus discípulos são chamados a serem artesãos de paz. Jesus, o Príncipe da Paz, envia os seus discípulos como portadores de paz: «Quando entrardes numa casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’» (Lucas 10,5). Mesmo diante da violência, Ele percorreu o caminho da não-violência até ao fim. Impediu ainda que os seus discípulos usassem a violência para continuar a sua missão (cf. Lucas 9, 54-55), ou que O protegessem no momento da sua prisão (cf. Mateus 26,52). Proclamar a paz é anunciar Cristo que é a “nossa paz”. Um importante sinal do Espírito que é dado aos discípulos para marcar a vida da Igreja é a “paz” (cf. Gálatas 5,22), e tal paz precisa de reinar nos seus corações para lhes permitir cumprir o seu chamamento como um só corpo (cf. Colossenses 3,15).

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO e CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS, Educação para a paz num mundo multirreligioso: Perspetiva Cristã, 2019, pp. 5-6.

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Fazei desabrochar a Paz... Reflexões para o Advento 2019 - Apresentação


Fazei desabrochar a Paz...

APRESENTAÇÃO


A paz – afirmou o Papa Francisco, na sua mensagem para a celebração do 52º Dia Mundial da Paz –, «é como uma flor frágil, que procura desabrochar por entre as pedras da violência». E, como recordou às autoridades civis moçambicanas, em Maputo, a 5 de setembro de 2019, «a busca da paz duradoura – uma missão que envolve a todos – exige um trabalho árduo, constante e sem tréguas».

Neste sentido, é nossa convicção que a educação para a paz e a não-violência assume, sem dúvida, uma tarefa importante e fundamental para a promoção e consolidação de uma cultura da paz e não-violência nesta nossa casa comum. Ela permitirá fazer desabrochar essa “flor frágil”, continuamente ameaçada, que é a paz, na medida em que as sementes de paz que “formos plantando”, mesmo em ambientes inóspitos, farão florescer o amor, a esperança e a alegria. E esta tem sido uma preocupação e um dos princípios fundamentais de ação da secção portuguesa da Pax Christi, Movimento Católico Internacional para a Paz, desde o seu início, nos anos 1980.

A este propósito, numa recente publicação conjunta (Educação para a paz num mundo multirreligioso: Perspetiva Cristã), o Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso e o Conselho Mundial de Igrejas, afirmam: «A educação para a paz torna-se um imperativo no nosso contexto atual, caracterizado pela perda da vida humana, destruição de lares, propriedades e infraestruturas, pelas crises migratórias e de refugiados, pelo impacto no meio ambiente, bem como a traumatização de gerações inteiras e o uso de recursos finitos para abastecer o stock de armas à custa da educação e do desenvolvimento. A nossa tarefa torna-se ainda mais importante no contexto da crescente visibilidade da violência nos meios de comunicação social, que pode fomentar o medo e o ódio».

É neste espírito que propomos estas reflexões para viver o Advento de 2019, seja na paróquia, em família ou em grupo, a partir de textos selecionados do documento do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso e do Conselho Mundial de Igrejas, atrás citado, que realça o papel fundamental que a educação pode desempenhar na promoção de uma cultura da paz.

Esta proposta está enraizada na convicção de que todos podemos ser educadores para a paz e de que a educação para a paz e a não-violência é missão de todos, nomeadamente dos cristãos.

É nossa expectativa que estas reflexões para o advento sejam um incentivo a que cada um assuma o compromisso de promover, pelo menos, uma ação de educação para a paz no próximo ano.

Há inúmeras possibilidades: em família, na paróquia, na escola, no grupo, seja em ambientes online ou offline, pode promover uma campanha de educação/promoção da paz e da não-violência. Pode abordar o tema da paz em geral ou escolher temáticas específicas, como, por exemplo, Paz e diálogo inter-religioso, Paz e emergência climática, Viver a paz em sociedades multiculturais…

Contacte a Pax Christi se quiser ajuda, e partilhe connosco a sua iniciativa.

Novembro de 2019

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