a OBSERVATÓRIO DA PAX: O rastilho das narrativas falsas

terça-feira, 19 de maio de 2020

O rastilho das narrativas falsas

As narrativas falsas visam controlar as narrativas nos media e nas redes sociais, manipular a opinião pública, potenciar sentimentos de incerteza e minar os alicerces das democracias. Por isso, é fundamental conhecer a lógica tecnológica, social, política e económica das notícias falsas. Artigo de Rita Figueiras, Docente da Universidade Católica, publicado na revista Além-Mar.


No âmbito do 54.º Dia das Comunicações Sociais, o Santo Padre propõe uma reflexão sobre a importância da narração e da narrativa.

As histórias reais e de ficção têm um papel antropológico estrutural e estruturante na nossa cultura, nomeadamente na forma como: entendemos os valores e as práticas sociais, interpretamos a realidade, construímos a mundividência e a memória colectiva. Neste processo, as notícias, entendidas como um produto culturalmente situado, sinalizam questões e expressam conflitos considerados relevantes para a sociedade, excluindo do seu reportório narrativo acontecimentos que não servem a sua autodefinição.

Desinformação

Na mensagem do papa também encontramos referências às notícias falsas. A informação falsa visa controlar as narrativas nos media e nas redes sociais, manipular a opinião pública, potenciar sentimentos de incerteza e minar os alicerces das democracias. Tal como a designação sugere, estas narrativas são difíceis de identificar. Se algumas são construídas única e exclusivamente baseadas em mentiras, a maioria delas são mais difíceis de discernir, porque misturam informação verdadeira e falsa. É por esta razão que um estudo recente, feito por um instituto associado à reputada Universidade de Oxford, revela que as populações na maioria dos 38 países analisados têm elevados índices de preocupação com as narrativas falsas. Por exemplo, essa preocupação é partilhada por 85% dos brasileiros, por 75% dos portugueses e 70% dos britânicos.

Este receio reflecte a dúvida constante de quem procura e consome informação online, mas também de quem, sem estar à procura, se depara com algo que circula nas redes sociais: O que é verdade? O que é mentira? O que deve ser ignorado? E o que fazer com as notícias que se sabe que são falsas? Como alertar para o assunto sem amplificar as mentiras? Estas são dúvidas reais e que quotidianamente assaltam o espírito de muita gente em muitas partes do mundo. No entanto, em todos os tempos da História e nas mais variadas culturas, sempre houve notícias falsas, quer fosse, por exemplo, sob a forma de rumores ou de propaganda política. Então, porque é que de alguns anos a esta parte se começou a falar tanto em desinformação e em notícias falsas? [...] Ler +

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