a OBSERVATÓRIO DA PAX: maio 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tratado sobre o Comércio de Armas: Carta para o Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros

A 2 de Abril de 2013 a Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovou o Tratado sobre o Comércio de Armas (TCA), colocando ponto final a um esforço desenvolvido no seu âmbito desde finais de 2006 e regulamentando, minimamente, o comércio internacional de armas convencionais.

Segue-se ainda um longo período de espera antes que o Tratado entre em vigor.

A sua assinatura poderá ser feita a partir de 3 de Junho de 2013 e só entrará em vigor 90 dias após o depósito, junto do Secretário-geral das Nações Unidas, do instrumento de ratificação apresentado pelo 50.º Estado que a efectuar.

Perante este feito da diplomacia internacional, em carta assinada a 29 de Maio de 2013 pelo Observatório Permanente sobre a Produção, Comércio e Proliferação das Armas Ligeiras, pela Amnistia Internacional – Portugal, pela Comissão Nacional Justiça e Paz, pelo Observatório sobre Género e Violência Armada do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, pela Pax Christi Portugal e pela Pró Dignitate - Fundação de Direitos Humanos, solicita-se ao Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros que:
  • Portugal, assine o Tratado, com a maior urgência, a partir de 3 de Junho de 2013;
  • em Portugal, com a conveniente brevidade, se inicie o processo de ratificação deste Tratado, por forma a que se consiga entregar nas Nações Unidas o instrumento de ratificação a tempo de permitir que o nosso país figure entre os primeiros cinquenta Estados que o fizerem, contribuindo, assim, directamente, para colocar em vigor o Tratado sobre o Comércio das Armas;
  • no âmbito internacional e, em particular, junto dos países que, com Portugal, constituem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, se diligencie no sentido de se conseguir uma sintonia de comportamentos favoráveis a uma entrada em vigor do Tratado sobre o Comércio de Armas tão cedo quanto possível e, mais importante ainda, a uma aplicação rigorosa do seu conteúdo.
Lisboa, 29 de Maio de 2013

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domingo, 26 de maio de 2013

Cristãos e Budistas: Paz interior, paz entre os povos - Declaração final

"Paz interior, paz entre os povos" foi o tema do quarto colóquio entre cristãos e budistas realizado na Pontifícia Universidade Urbaniana, por iniciativa do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, em parceria com o Gabinete para o Diálogo Ecuménico e Inter-Religioso da Conferência Episcopal Italiana (CEI). Os participantes, da Itália, do Japão, da República da China (Taiwan), do Vietname, da Coreia do Sul, da Tailândia, de Mianmar, do Sri Lanka e da Índia, reafirmaram a necessidade da responsabilidade mútua dos seguidores das diferentes tradições religiosas para manter e restaurar a paz e contribuir para a amizade e solidariedade entre os indivíduos e entre os povos.

DECLARAÇÃO FINAL DO IV COLÓQUIO BUDISTA-CRISTÃO
(Roma, 6 de maio de 2013)

1. The Pontifical Council for Interreligious Dialogue in collaboration with the Office of Ecumenical and Interreligious Dialogue of the Catholic Bishops’ Conference of Italy held the fourth Buddhist-Christian Colloquium at the Pontifical Urbaniana University on 6th of May 2013 under the theme "Inner Peace, Peace among Peoples".

2. The participants were of the view that the different papers presented, formal discussions, friendly dialogues during free times contributed to deepen the mutual understanding of each other’s traditions, to know better the convergence and divergence and to be aware of the mutual responsibility to maintain or to restore peace.

3. The participants coming from Italy, Japan, the Republic of China (Taiwan), Vietnam, South Korea, Thailand, Myanmar, Sri Lanka and India noted that the religious landscape of the world today is undergoing rapid changes. In that context the followers of different religious traditions can contribute to friendship and solidarity among persons and peoples.

4. For Christians, sin in all its forms - selfishness and violence, greed and the inordinate desire for power and dominion, intolerance, hatred and unjust structure – ruptures the communion between God and us and among ourselves. The restoration of peace necessarily requires liberation from sin and its rejection. Jesus Christ restored the broken divine-human communion. Peace is therefore the state of those who live in harmony with God, with themselves, with others and with the whole of creation.

5. As regards Buddhists, Buddha Sakyamuni taught that the root of all evil is ignorance and false views based on greed or hatred and he discovered the Four Noble Truths as a path of liberation from suffering to Nirvana. Accordingly the ethics and mental purity are but two aspects of the same path of practice: the stillness of meditation and working for the liberation of all beings from their suffering sustained by the third aspect of the path: wisdom. In fact, the real Buddhist compassion flows from the awareness of the substantial identity and unity of all beings, a Wisdom that is deeply rooted in the contemplative practice.

6. In both the Christian and Buddhist journeys, therefore, inner freedom, purification of the heart, compassion and the gift of self are the essential conditions for the inner peace of the individual as well as for social peace.

7. In spite of differences, both Buddhist and Christian ethical teaching on respect for life is a search for common good based on loving kindness and compassion. The participants expressed that dialogue between Buddhists and Christians be strengthened to face new challenges such as threat to human life, poverty, hunger, endemic diseases, violence, war, etc., which belittle the sanctity of human life and poison peace in human society.

8. The participants recognized that they have a special responsibility in addressing these issues. The desire for cooperation for the well-being of humanity ought to spring from the depth of spiritual experiences. Only inner peace can transform the human heart and make one see in his/her neighbour another brother and sister. If we really want to build a world of peace, it is vitally important that we join forces to educate people, especially the young, to seek peace, to live in peace and to risk working for peace.

9. The colloquium concluded with the affirmation that it is love which brings or restores peace to human hearts and establishes it in our midst. The participants also observed that the path of peace is difficult; it demands courage, patience, perseverance, determination and sacrifice. They consider dialogue a priority and a sign of hope. It must continue!

NEWS.VA

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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Oscar Romero, modelo profeta para hoje: Entrevista de D. Gregorio Rosa, amigo e colaborador do arcebispo salvadorenho, Agência ECCLESIA

D. Gregorio Rosa, amigo e colaborador do arcebispo salvadorenho, veio a Portugal, a convite dos Missionários da Consolata, para falar sobre pensamento e espiritualidade do homem de Igreja assassinado há 33 anos

Agência ECCLESIA – Como conheceu D. Oscar Romero?
D. Gregorio RosaEle era um sacerdote, quando eu o conheci – ele tinha 40 anos e eu tinha 15 anos, quando começava os meus estudos no seminário menor. Depois trabalhei com ele um ano inteiro no seminário menor de San Miguel, como seu assistente, em 1968, e tornamo-nos amigos. No seu diário, o meu nome aparece muitas vezes, porque éramos muito próximos. Aparece sobretudo quando Romero era arcebispo e tinha de preparar relatórios para Roma, a fim de explicar-se e defender-se de ataques injustos que chegavam contra ele. Isso aparece no diário, era uma experiência de amizade muito profunda e uma graça para mim, muito especial.

AE – O percurso de vida de D. Oscar Romero ficou marcado por incompreensões, dúvidas. Pensa que ainda hoje há gente na Igreja e não só que não entendeu esta figura?
GR – Eu também sou jornalista e preparei com ele muitas vezes um programa de rádio, de 30 minutos, que era transmitido todas as semanas. Fazia questões muito provocadoras a Romero e uma vez perguntei-lhe: você transformou-se, monsenhor? Ele respondeu-me que não diria que era uma transformação, mas uma evolução. Esta mesma ideia aparece num documentário da televisão suíça em 1979, um ano antes de morrer. Perguntam-lhe a mesma coisa e ele diz com mais pormenor como, quando era bispo no interior do país (Tambeae, ndr), via as coisas de uma forma e quando chegou a arcebispo e está na capital, descobre de forma brutal o que é a violência estrutural, o que chama de injustiça institucionalizada. E descobre que tem uma vocação, a de acompanhar o povo que está esmagado pela violência, pela repressão, pelos esquadrões da morte, e ser voz dos que não têm voz. Romero vai evoluindo para uma missão profética – os profetas nunca são compreendidos -, ele nas suas homilias fala muito do tema do profeta e compara a missão de Jesus com a missão dos profetas. Ele foi um profeta e por isso foi incompreendido, perseguido, foi assassinado: é muito fácil perceber, a partir daí, o que foi a missão de Romero, o que foi a sua opção, a sua vida, também o seu martírio, um profeta fiel à sua missão, porque foi acima de tudo um discípulo de Jesus Cristo. (Mais...)

Agência ECCLESIA

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Papa Francisco denuncia a ditadura da economia e apela a uma reforma ética financeira

O Papa Francisco lançou esta quinta-feira no Vaticano várias críticas ao atual sistema financeiro, num discurso aos novos embaixadores de quatro países junto da Santa Sé.


Senhores Embaixadores, considerados os progressos que se verificam em vários âmbitos, a humanidade está neste momento a viver uma espécie de viragem na sua história. Não podemos deixar de nos alegrar com os resultados positivos, que concorrem para o bem-estar autêntico da humanidade, por exemplo, nos campos da saúde, educação e comunicação. Mas há que reconhecer também que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo continua a viver dia a dia numa precariedade de consequências funestas. 

Aumentam algumas patologias, com as suas consequências psicológicas; o medo e o desespero apoderam-se do coração de numerosas pessoas, mesmo nos Países considerados ricos; a alegria de viver vai diminuindo; a imoralidade e a violência estão a aumentar; torna-se mais evidente a pobreza. Tem-se de brigar para viver, cingindo-se muitas vezes a uma vida pouco dignificante. A meu ver, uma das causas desta situação reside na relação que temos com o dinheiro, aceitando o seu predomínio sobre nós e as nossas sociedades. Assim a crise financeira, que estamos a atravessar, faz-nos esquecer a sua origem primordial, que se encontra numa profunda crise antropológica, ou seja, na negação da primazia do homem. Criámos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32,1-8) encontrou uma nova e cruel versão na idolatria do dinheiro e na ditadura de uma economia realmente sem fisionomia nem finalidade humanas.

A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, parece evidenciar as suas deformações e, sobretudo, a sua grave carência de perspectiva antropológica, que reduz o homem a uma única das suas exigências: o consumo. Pior ainda, hoje o próprio ser humano é visto como um bem de consumo, que se pode usar e deitar fora. Começámos esta cultura do bota-fora. Esta perversão verifica-se tanto a nível individual como social; e goza do seu favor! Em tal contexto, a solidariedade, que é o tesouro dos pobres, acaba muitas vezes por ser considerada contraproducente, contrária à racionalidade financeira e económica. Enquanto os rendimentos duma minoria crescem de maneira exponencial, os da maioria vão-se exaurindo. Este desequilíbrio deriva de ideologias que promovem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira, negando assim o direito de controle aos Estados, que têm precisamente a responsabilidade de prover ao bem comum. Instaura-se uma nova tirania, invisível e às vezes virtual, que impõe, unilateralmente e sem recurso possível, as suas leis e regras. Além disso, a dívida e o crédito afastam os Países da sua economia real, e os cidadãos do seu poder real de compra. Depois vem juntar-se a isto uma corrupção tentacular e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A avidez de poder e riqueza não conhece limites.

Por detrás desta atitude, esconde-se a recusa da ética, a recusa de Deus. Como a solidariedade, também a ética incomoda! É considerada contraproducente, vista como demasiado humana, porque relativiza o dinheiro e o poder, e como uma ameaça, porque recusa a manipulação e sujeição da pessoa; porque a ética conduz a Deus, que escapa às categorias do mercado. Deus é considerado por estes financeiros, economistas e políticos como não regulável, Deus não regulável, ou até perigoso, porque chama o homem à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A meu ver, a ética – naturalmente não ideológica – permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humanos. Neste sentido, encorajo os peritos financeiros e os governantes dos vossos Países a terem em conta estas palavras de São João Crisóstomo: «Não partilhar com os pobres os próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Os bens que possuímos não são nossos, mas deles» (Homilia sobre Lázaro, 1, 6: PG 48, 992D).
Prezados Embaixadores, seria desejável a realização de uma reforma financeira que fosse ética e produzisse, por sua vez, uma reforma económica salutar para todos. Isso, porém, requereria por parte dos dirigentes políticos uma corajosa mudança de atitude. Exorto-os a enfrentarem este desafio com determinação e clarividência, naturalmente tendo em conta a peculiaridade dos respectivos contextos. O dinheiro deve servir, e não governar! Eu amo a todos, ricos e pobres; mas tenho o dever de recordar ao rico, em nome de Cristo, que deve ajudar o pobre, respeitá-lo, promovê-lo. Por isso, o Papa exorta à solidariedade desinteressada e a um retorno à ética que favoreça o homem na realidade financeira e económica.

A Igreja, por sua parte, não cessará de trabalhar pelo desenvolvimento integral de toda a pessoa. Neste sentido, recorda que o bem comum não deveria ser simplesmente um acréscimo, um esquema conceitual de reduzido valor, inserido nos programas políticos. A Igreja encoraja os governantes a permanecerem verdadeiramente ao serviço do bem comum das suas populações. Exorta os dirigentes das realidades financeiras a tomarem em consideração a ética e a solidariedade. E porque não dirigirem-se a Deus para que lhes inspire os seus desígnios!? Formar-se-á então uma nova mentalidade política e económica, que contribuirá para transformar a profunda dicotomia entre as esferas económica e social numa sã convivência.

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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Portugal: D. Gregório Rosa, amigo de D. Óscar Romero, recorda o seu pensamento e espiritualidade

D. Gregório Rosa, amigo de Óscar Romero, vem a Portugal, a convite dos Missionários da Consolata, falar sobre pensamento e espiritualidade do arcebispo assassinado há 33 anos em El Salvador.
O bispo auxiliar de San Salvador vai estar em Lisboa, Porto, Braga e Fátima, de 19 a 26 deste mês, para apresentar uma "grande figura da Igreja salvadorenha”, numa série de conferências, e lançar o livro 'A doce violência do amor', refere um comunicado enviado à Agência ECCLESIA pela organização da iniciativa. 
Nas preleções, o prelado fará “ecoar de novo, a voz profética de Óscar Romero” onde o seu “testemunho apela a um cristianismo mais livre e mais envolvido na transformação da sociedade”.
Defensor dos pobres e oprimidos, dos camponeses e operários, o arcebispo Óscar Romero foi assassinado a 24 de março de 1980 por um comando de extrema-direita quando celebrava missa na capela de um hospital oncológico. (Mais...)

Programa
Lisboa
20 de maio: Igreja da Portela, Olivais, 21h00
21 de maio: Colégio de São João de Brito, 21h00

Porto
22 de maio: Universidade Católica, 21h00

Braga
23 de maio: Auditório Vita, 21h00 

Gondomar
24 de maio: Anfiteatro da Biblioteca Municipal, 21h00

Fátima
25 de maio: Centro de Estudos de Fátima, 18h00

Agência Ecclesia

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