Fratelli tutti: Declaração da Pax Christi Internacional sobre a encíclica do Papa Francisco
Fratelli tutti: Uma base para promover a não-violência num mundo violento
Uma declaração da Pax Christi Internacional sobre a encíclica do Papa Francisco
6 de outubro de 2020
A Pax Christi Internacional está grata pela nova encíclica do Papa Francisco, Fratelli tutti: Sobre a fraternidade e a amizade social. Este documento oportuno enfrenta as realidades de um mundo polarizado, violento e injusto no meio da crise mundial da pandemia COVID-19 e visualiza uma nova forma de avançar para um futuro mais justo, pacífico, igual, esperançoso e não-violento.
Embora Fratelli tutti não use explicitamente o termo não-violência, a encíclica oferece uma base clara para desenvolver e integrar a teologia e a prática da não-violência no ensinamento da Igreja, um esforço ao qual se dedica a Iniciativa Católica de Não-violência da Pax Christi. Em particular, a análise clara do Papa Francisco da violência global, incluindo a violência estrutural, prepara o cenário para uma compreensão mais profunda da não-violência.
No início do documento, o Papa Francisco descreve o “normal injusto”, com as suas estruturas económicas, políticas, sociais e tecnológicas interligadas, que dividem os privilegiados de milhares de outros, incluindo os empobrecidos, os migrantes, as mulheres, os doentes, os idosos. Para transformar o mundo de maneira não-violenta, devemos primeiro vislumbrar a sua violência, e o Papa Francisco não nos poupa nisto.
O papa, porém, não se limita a descrever a realidade do nosso mundo injusto; ele responde-lhe com temas-chave fundamentados numa visão espiritual primordial, que é também a base da ética universal da não-violência: que todos os seres em todos os lugares estão interrelacionados. Inspirado por São Francisco de Assis, que fez da sororidade e da fraternidade de todos os seres uma pedra de toque da sua espiritualidade e ação concreta no mundo, o Papa Francisco dissolve todas as barreiras que nos impedem de ver e viver esta realidade.
Na encíclica, uma série de temas resulta logicamente disto. Se somos todos parentes, se somos todos uma família, então devemos desafiar tudo o que destrói esta unidade: mostrando cuidado radical uns pelos outros; construindo uma cultura de encontro autêntico; tornando o diálogo central na nossa maneira de ser; e colocando em ação a solidariedade com os mais excluídos, despossuídos, desumanizados e sistematicamente sob ataque. O Papa Francisco está aqui a chamar-nos inflexivelmente à vida não-violenta, especialmente iluminada pela sua extensa análise da história do Bom Samaritano.
O Papa Francisco nesta encíclica também age, mesmo quando chama o mundo a fazê-lo. Reitera a inadmissibilidade da pena de morte, mas talvez ainda de grande envergadura é a reflexão do Papa Francisco sobre a guerra, que acreditamos ir mais longe do que qualquer encíclica papal na história.
Ao enfatizar como a tradição da guerra justa fracassa face à guerra moderna, ele escreve: “Já não podemos pensar na guerra como solução, porque provavelmente os riscos sempre serão superiores à hipotética utilidade que se lhe atribua. Perante esta realidade, hoje é muito difícil sustentar os critérios racionais amadurecidos noutros séculos para falar duma possível ‘guerra justa’.” Na nota de rodapé nº 242, ele é ainda mais direto: “Santo Agostinho, que elaborou uma ideia da ‘guerra justa’ que hoje já não defendemos, disse que ‘matar a guerra com a palavra e alcançar e conseguir a paz com a paz e não com a guerra, é maior glória do que a dar aos homens com a espada’ (Epistula 229, 2: PL 33, 1020).”
A Pax Christi Internacional e a sua Iniciativa Católica de Não-Violência estão enormemente gratas pela visão do Papa Francisco de tal mundo, que ele compartilha desde o início do seu papado. Em resposta a esta visão, temos explorado a não-violência como uma espiritualidade, um modo de vida, um programa de transformação social e uma ética universal. Fratelli tutti oferece uma base para promover a teologia e a prática fiel da não-violência.
O Papa Francisco convida-nos a uma reflexão sobre a realidade da guerra e sobre outra realidade quando “escolhemos a paz”. Façamos esta viagem com o Papa enquanto fazemos avançar esta reflexão juntos em busca de uma casa comum mais justa, pacífica e não-violenta.
Pode descarregar a versão em PDF aqui.
Etiquetas: DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, EDUCAÇÃO PARA A PAZ E A NÃO-VIOLÊNCIA, ESPIRITUALIDADE E TEOLOGIA DA PAZ, JUSTIÇA ECONÓMICA E SOCIAL, PAPA FRANCISCO, TRANSFORMAÇÃO DE CONFLITOS
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