ADVENTO 2014
Ele virá!
«Trago comigo um sonho: este povo escravizado há-de entrar, resgatado, na sua pátria», terá pensado Moisés.
O Advento é uma certeza, tecida de um feixe de possíveis: Ele virá! Ele é o Senhor, apresentado na nossa carne e desejoso de ganhar tempo connosco.
Esta pausa de espera envolve as nossas buscas. Para tantos, os dramas da história e de seus acontecimentos são demasiadamente irrisórios para encantarem Deus. A trivialidade da abjecção ou o espanto da barbárie não uniformizam, à justa, o Libertador de um novo povo.
Pois esta é a “mudança de mentalidade” (metanóia) a ser conquistada: como pensar de acordo com o olhar criador? Que transformar nesta “carne universal”, nesta natureza/ambiente, de que somos cooperadores, nesta cidade global da nossa fraternidade, a tempo cheio?
a) A outorga do desenvolvimento e o encargo de promover este mundo esbarraram no desencanto de não ser de todos o que lhes foi depositado em mãos. A água é de alguns, a terra é presa fácil da rapina, o chão é solo dizimado para o nascer do trigo e da beleza natural. A experiência do sector agrário evoca-nos a saga de aspirações e tristezas, de interesses e injustiças, de soluções inadequadas para quem é senhor ou para quem trabalha as leiras dos outros. A terra, forno de pão, é também campa rasa de esperanças.
b) A casa é um espaço de inclusão. É o fogo que aquece as pessoas e ilumina o viver comum. Dormir na rua é um texto do desequilíbrio social. Era preciso saber soletrar esta escrita de vergonha, ao lado da perseguição a crianças, idosos, a quem está a mais. Os pobres sem eira nem beira são o emblema duma civilização traída: pessoas arrumadas à parte, cinturas malditas da situação urbana, expulsão sempre em nome do bom senso. E em nome da dignidade da casa, como é possível matar-se, pela violência, um ou mais dos seus habitantes?!
c) Quem não repara nos lugares vazios no sector do emprego, desclassificando uma sociedade que busca um trabalho sempre digno e inteligente? Constituímos um amontoado de gente, sem sensibilidade nem objectivos, assistindo à morte, em vida, de jovens, adultos, famílias. A fome de crianças, o exílio forçado pela emigração, as angústias pelo presente e o futuro... são histórias de pessoas amordaçadas pelo indevido. As esperanças desenganadas só encontram o silêncio e o medo dos interlocutores? Por que nos calamos? Por que não lavramos a dureza da hora actual?
d) Como é possível sonhar a paz, se a justiça, como o azeite na almotolia, já não escorre?!
«Procuremos ser uma Igreja que encontra novos caminhos» (Papa Francisco).
«Nossa dor advém (…) das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. (…) A dor é inevitável. O sofrimento é opcional» (Carlos Drumond de Andrade).
Ele virá!
+ Januário Torgal Ferreira
Novembro de 2014
In: «Não havia lugar para eles...» (Lc 2,7). Contributos para a celebração do Advento 2014. Esta brochura está disponível online aqui.
«Trago comigo um sonho: este povo escravizado há-de entrar, resgatado, na sua pátria», terá pensado Moisés.
O Advento é uma certeza, tecida de um feixe de possíveis: Ele virá! Ele é o Senhor, apresentado na nossa carne e desejoso de ganhar tempo connosco.
Esta pausa de espera envolve as nossas buscas. Para tantos, os dramas da história e de seus acontecimentos são demasiadamente irrisórios para encantarem Deus. A trivialidade da abjecção ou o espanto da barbárie não uniformizam, à justa, o Libertador de um novo povo.
Pois esta é a “mudança de mentalidade” (metanóia) a ser conquistada: como pensar de acordo com o olhar criador? Que transformar nesta “carne universal”, nesta natureza/ambiente, de que somos cooperadores, nesta cidade global da nossa fraternidade, a tempo cheio?
a) A outorga do desenvolvimento e o encargo de promover este mundo esbarraram no desencanto de não ser de todos o que lhes foi depositado em mãos. A água é de alguns, a terra é presa fácil da rapina, o chão é solo dizimado para o nascer do trigo e da beleza natural. A experiência do sector agrário evoca-nos a saga de aspirações e tristezas, de interesses e injustiças, de soluções inadequadas para quem é senhor ou para quem trabalha as leiras dos outros. A terra, forno de pão, é também campa rasa de esperanças.
b) A casa é um espaço de inclusão. É o fogo que aquece as pessoas e ilumina o viver comum. Dormir na rua é um texto do desequilíbrio social. Era preciso saber soletrar esta escrita de vergonha, ao lado da perseguição a crianças, idosos, a quem está a mais. Os pobres sem eira nem beira são o emblema duma civilização traída: pessoas arrumadas à parte, cinturas malditas da situação urbana, expulsão sempre em nome do bom senso. E em nome da dignidade da casa, como é possível matar-se, pela violência, um ou mais dos seus habitantes?!
c) Quem não repara nos lugares vazios no sector do emprego, desclassificando uma sociedade que busca um trabalho sempre digno e inteligente? Constituímos um amontoado de gente, sem sensibilidade nem objectivos, assistindo à morte, em vida, de jovens, adultos, famílias. A fome de crianças, o exílio forçado pela emigração, as angústias pelo presente e o futuro... são histórias de pessoas amordaçadas pelo indevido. As esperanças desenganadas só encontram o silêncio e o medo dos interlocutores? Por que nos calamos? Por que não lavramos a dureza da hora actual?
d) Como é possível sonhar a paz, se a justiça, como o azeite na almotolia, já não escorre?!
«Procuremos ser uma Igreja que encontra novos caminhos» (Papa Francisco).
«Nossa dor advém (…) das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. (…) A dor é inevitável. O sofrimento é opcional» (Carlos Drumond de Andrade).
Ele virá!
+ Januário Torgal Ferreira
Novembro de 2014
In: «Não havia lugar para eles...» (Lc 2,7). Contributos para a celebração do Advento 2014. Esta brochura está disponível online aqui.
Etiquetas: ADVENTO, ADVENTO 2014, ESPIRITUALIDADE E TEOLOGIA DA PAZ
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