O ecumenismo como interpelação e tarefa
A fé cristã professa, como elemento essencial da sua identidade, a unidade da Igreja de Jesus Cristo: "Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica." Com esta formulação do Credo de Niceia-Constantinopla (381) afirmam as principais Igrejas e Comunidades eclesiais que a sua fé no Deus Trino se traduz na realidade da Igreja, comunidade visível de crentes que procuram viver na fé, na esperança e no amor o seguimento de Jesus ao longo dos tempos. [...]
Desde o início, a história do Cristianismo, modelada por pessoas em busca de fidelidade a Deus mas sempre também sujeitas a falhas e pecados, apresenta-se marcada por tensões e divisões, algumas delas tornadas irreversíveis e configurando o rosto actual da cristandade. O Evangelho de Jesus não nos é transmitido no mundo de hoje por cristãos que professam em comum o essencial da mesma fé, mas por cristãos divididos entre si, separados uns dos outros. Diferenças na compreensão da fé, sobretudo concepções diversas acerca da Igreja e da sua unidade, dos sacramentos e dos ministérios, continuam a impedir a realização de uma unidade visível e, de modo particular, a celebração comum da eucaristia. Uma realidade que, contrastando com a sua confissão de fé, interpela os cristãos a uma atitude ecuménica na busca de comunhão e unidade, em ordem a um testemunho crível da mensagem salvífica do Evangelho a favor da humanidade.
[A] tarefa de contribuir, cada um a seu modo e dentro do seu âmbito de responsabilidade, para a unidade da Igreja de Jesus Cristo na história é dever irrenunciável e tarefa prioritária dos cristãos e das Igrejas no seu conjunto. O facto de, no nosso país, a Igreja católica ser amplamente maioritária não diminui, antes reforça a necessidade de aprofundar o tema ecuménico. Depois do Concílio Vaticano II e na fidelidade ao que a consciência eclesial nos indica através do magistério, não se pode viver com fidelidade a identidade católica sem uma atenção particular ao problema ecuménico. [...]
O diálogo ecuménico nunca foi fácil, mas parece viver-se na actualidade uma fase menos determinada, nalguns aspectos marcada até por algum cepticismo. Não se verificam só sinais de aproximação ecuménica, mas existem também tendências e riscos de novos afastamentos. A convicção ecuménica brota radicalmente da esperança cristã, não se baseia na simples confiança nas nossas próprias forças. A unidade da Igreja que será possível realizar na história depende do grau de fidelidade que tivermos, mas só o Espírito Santo a poderá levar à sua realização e pelos caminhos e modos que só Deus conhece.
JOSÉ EDUARDO BORGES DE PINHO - Ecumenismo: Situação e perspectivas. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011, p. 11-12, 14.
Etiquetas: ECUMENISMO, ESPIRITUALIDADE E TEOLOGIA DA PAZ
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