a OBSERVATÓRIO DA PAX: Comunicado da Comissão Nacional Justiça e Paz: "Pessoas antes dos números, sempre"

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Comunicado da Comissão Nacional Justiça e Paz: "Pessoas antes dos números, sempre"

Pessoas antes dos números, sempre 
Comunicado da Comissão Nacional Justiça e Paz


1. Em Abril passado, passaram cinquenta anos sobre a data de publicação da célebre encíclica do Papa João XXIII sobre a PAZ (Pacem in Terris). Para comemorar tão significativa data, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) organiza, em parceria com a Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, uma conferência sobre alguns fatores de paz.
Comemorar não é apenas recordar. É, também, e sobretudo, atualizar o empenhamento dos cristãos e dos homens e mulheres de boa vontade, no sentido de marcar a vida do país, da Europa e do mundo com as sábias orientações daquele documento memorável, na linha da construção da paz na justiça, e da intransigente defesa da dignidade humana, na sua dimensão individual e na sua relação com os outros. É, ainda, perceber a atualidade e o sentido daquela intervenção; celebrar é colher o mesmo dinamismo de atenção à realidade - lendo os sinais dos tempos, escutando os anseios e as esperanças dos nossos contemporâneos (à maneira do que, pouco depois, o Concílio Vaticano II havia de escrever na Constituição Pastoral Gaudium et spes (cf. n.1) - e procurando, com serenidade, propor uma palavra de esperança que possa contribuir para a transformação da realidade que conhecemos, para a tornar lugar da presença do Reino de paz e de Justiça, de um mundo fraterno.

2. Em Setembro de 2012, a CNJP publicou um comunicado, intitulado “Os números e as Pessoas”, em que dava conta das preocupações relativas à economia e às condições de vida dos portugueses, e alertava para alguns pontos importantes: a) o falhanço no cumprimento dos objetivos fixados no Memorando de Entendimento, sem que se tirassem consequências no respeitante à correção das políticas adotadas; b) a degradação da situação social, com o consequente enfraquecimento do Estado de Direito; c) a falta de equidade na distribuição dos sacrifícios impostos; d) a excessiva passividade das autoridades face às exigências dos credores e da Europa.
Infelizmente, as considerações então feitas continuam válidas e devem mesmo ser reforçadas. Com efeito, o progresso conseguido nalgumas variáveis continua a ser claramente insuficiente, face aos objetivos, os quais vão sendo progressivamente adiados. Neste entendimento, a CNJP expressa, uma vez mais, a sua profunda preocupação com a situação de muitos dos nosso concidadãos, arrastados para condições de vida impróprias, mesmo em tempo de crise e emergência. Reconhecemos que o país está sujeito ao cumprimento de metas financeiras e orçamentais fixadas no Memorando de Entendimento. São condicionantes relevantes da política nacional, mas não é aceitável que se transformem em objetivos finais da governação. Os governos existem, não para cumprir metas orçamentais, mas para promover o bem-estar das pessoas e das famílias, de forma sustentável. Com os recursos existentes no país, na União Europeia e nas instituições internacionais envolvidas, não é aceitável que sobre o povo português se faça desabar um tipo de austeridade objetivamente desumano, em resultado de objetivos financeiros transformados em finalidade última e única das políticas públicas. (Mais ...)

Agência Ecclesia

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