a OBSERVATÓRIO DA PAX: João Paulo II, humilde peregrino da paz

sábado, 30 de abril de 2011

João Paulo II, humilde peregrino da paz

Das muitas memórias que guardamos do Papa João Paulo II uma, que é fundamental, é a da sua coerência enquanto embaixador da paz. Ele ensinou-nos que a paz é claramente a única forma de construir a justiça para todos e que a verdadeira coragem está no trabalho pela paz.
O Papa João Paulo II encarava a construção da paz como uma tarefa urgente para todos, não apenas para aqueles que, como ele, eram ouvidos pelos líderes políticos do mundo. Por isso, pedia insistentemente a todos que concretizassem "gestos de paz". Também ele deu o exemplo, aproveitando inúmeras oportunidades para ser testemunho de paz e de reconciliação.
Curar as feridas e as divisões entre as religiões foi uma prioridade. Em 1986, a convite do Papa, os líderes das religiões do mundo reuniram-se em Assis e afirmaram o seu compromisso com a construção da paz. Também em 1986, o Papa João Paulo II visitou a Grande Sinagoga de Roma, referindo-se ao povo judeu como " os nossos irmãos mais velhos".
Durante o seu pontificado, João Paulo II iniciou, em nome da Igreja, uma série, sem precedentes, de pedidos de perdão pelos pecados da história. No Senegal (1992) referiu a "terrível aberração de todos os que reduziram à escravatura os irmãos e irmãs que o Evangelho tinha destinado para a liberdade". Ao rezar no memorial do Holocausto, Yad Vashem (2000), pediu também perdão pelos pecados cometidos contra o povo de Israel: "a Igreja Católica está profundamente entristecida pelo ódio, os actos de perseguição e manifestações de anti-semitismo dirigidos por cristãos contra os judeus em qualquer momento e em qualquer lugar".
Vezes sem conta, em lugares associados aos piores actos da humanidade, o Papa inspirou esperança e determinação para uma mudança construtiva: Na Irlanda (1979): "Peço aos jovens envolvidos em organizações que promovem a violência... Não dêem ouvidos às vozes que falam a linguagem do ódio, da vingança, da retaliação...". Em Hiroshima (1981): "Relembrar Hiroshima é comprometer-se com a paz... Vamos prometer aos nossos irmãos humanos que vamos trabalhar incansavelmente pelo desarmamento e a eliminação de todas as armas nucleares...". Em Coventry, durante a guerra das Malvinas (1982): "A guerra deveria pertencer ao passado trágico, à história; não deve ter lugar na agenda da humanidade para o futuro."
Em cada crise o Papa João Paulo II apelou a todas as partes para utilizarem o diálogo e para que a razão prevalecesse sobre a violência. Antes da guerra do Iraque em 2003, advertiu: "a guerra nunca é apenas um outro meio pelo qual se pode optar para a resolução de diferendos entre as nações". Condenando "todas as acções terroristas" no Médio Oriente, o papa também referiu, em 2003, "a Terra Santa não precisa de muros, mas sim de pontes".
O Papa João Paulo II analisou as questões da guerra, da paz, da liberdade, da justiça e dos direitos humanos em todo o mundo sob vários ângulos e em todas as ocasiões possíveis. As suas encíclicas abordaram as complexas relações internacionais e ao mesmo tempo, identificaram repetidamente o "pecado estrutural" da injustiça sofrida pelos mais pobres do mundo, criticando fortemente os valores do mercado capitalista que os esmaga.
A Pax Christi sentiu-se especialmente inspirada pelo Papa João Paulo II sempre que insistia na urgência da educação para criar uma cultura de paz e não-violência. Das suas mensagens anuais para o Dia Mundial da Paz, que durante mais de 25 anos explanaram os requisitos de um mundo mais pacífico, nasceu uma síntese doutrinal sobre a paz, constituindo como que um silabário sobre este argumento fundamental. Os membros da Pax Christi em todo o mundo têm continuado a disseminar estes temas na oração, no estudo e nas acções a nível local. E continuarão a seguir o seu exemplo, impulsionados pelo apreço que ele mesmo nos manifestou directamente numa audiência, em 1995, por ocasião do 50 º aniversário da Pax Christi Internacional: "Movimentos como o vosso são preciosos. Eles tornam as pessoas atentas à violência que rompe a harmonia entre as pessoas no seio da criação. Eles participam na formação das consciências, para que, nas relações entre as pessoas e entre os povos, triunfe a justiça e a procura do bem comum."
João Paulo II foi, como ele próprio se reconheceu, um humilde peregrino da paz. O esforço incansável, que dominou o seu pontificado, para promover a paz e eliminar a guerra como meio de resolver os conflitos, continuará seguramente a ser uma inspiração para todos os construtores da paz.

Pax Christi Portugal
Mª. Margarida Saco (Vice-Presidente)
Manuel Quintãos (Secretário Geral)

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