a OBSERVATÓRIO DA PAX: PAZ E ESPIRITUALIDADE: Combater a Pobreza é Construir a Paz

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

PAZ E ESPIRITUALIDADE: Combater a Pobreza é Construir a Paz

Desde 1968, quando Paulo VI lançou a proposta de dedicar à Paz o primeiro dia do novo ano, que os papas, através das Mensagens publicadas para tal circunstância, vêm propondo a todos os homens e mulheres temas de reflexão sobre os múltiplos elementos da construção da paz.
Para 2009, com o título “Combater a pobreza, construir a paz”, o Papa Bento XVI, propõe-nos como tema central de reflexão para a celebração do dia 1 de Janeiro, 42º Dia Mundial da Paz, o combate à pobreza e a sua relação com a construção da paz, uma vez que a primeira constitui uma séria ameaça à segunda.
A realidade é bem reveladora do axioma: “Combater a Pobreza é Construir a Paz”. Nesta nossa casa comum que é a Terra, milhões de pessoas, membros da única família humana, vivem ainda hoje, em pleno século XXI, em situação de extrema pobreza. Atentemos a alguns números: 900 milhões de seres humanos vivem com menos de 0,70€ por dia; cada 6 segundos uma criança morre de fome e há mais de 800 milhões de pessoas em países pobres que não têm comida suficiente para satisfazer as suas necessidades calóricas básicas; cerca de 11 milhões de crianças morrem antes dos 5 anos de idade devido a causas que poderiam ser evitadas; etc. No entanto, em todo o mundo, em 2007, os gastos em despesas militares ascenderam a 1,339 biliões de dólares, de acordo com o relatório anual do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz (SIPRI) divulgado em Junho de 2008, que representam 2,5% do PIB mundial e equivalem a um orçamento de 202 dólares per capita; e em 2006, segundo Jacques Diouf, Director-geral da FAO, estragou-se comida no valor de 100.000 milhões de dólares e o excesso de consumo por pessoas obesas chegou a 20.000 milhões a nível mundial.
Também o nosso país é afectado pelo estigma da pobreza. Um estudo recente do Instituto Nacional de Estatística indica que em 2006, 18% da população portuguesa vivia no limiar da pobreza, isto é, quase um quinto dos portugueses adultos vivia com cerca de 379 euros por mês. A pobreza, revela o mesmo estudo, afectava sobretudo os idosos (26%) e os menores (21%).
A pobreza atenta contra a dignidade transcendental da pessoa humana e, como salientou o Prof. Muhammad Yunus no discurso na cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz de 2006, “é a ausência de todos os direitos humanos. As frustrações, a hostilidade e a raiva geradas pela pobreza abjecta não podem garantir a paz em nenhuma sociedade. Para construir uma paz sustentada é necessário encontrar formas de criar oportunidades para que as pessoas possam ter uma vida decente”.
Reduzir para metade a pobreza extrema e a fome até 2015, foi um dos objectivos que os líderes de todo o mundo se propuseram no início do século XXI, mas a avaliação feita a meio deste período mostra lacunas e défices de concretização. No entanto, a pobreza não é uma fatalidade, porquanto o mundo dispõe dos recursos para atingir este objectivo e os outros Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, mas falta o empenhamento político para tal.
Parafraseando o Nobel da Paz de 2006, acreditamos “convictamente que podemos criar um mundo livre de pobreza se todos acreditarmos em conjunto. Num mundo livre de pobreza o único sítio onde será possível ver pobreza será nos museus. Quando as crianças em idade escolar fizerem visitas aos museus da pobreza ficarão escandalizadas com a miséria e a indignidade que alguns seres humanos tiveram de sofrer. Culparão os seus antepassados por terem tolerado esta condição desumana que durante tanto tempo existiu para tanta gente”.
A nossa geração pode acabar com a pobreza e devemos recusar-nos a perder esta oportunidade. A luta contra a pobreza e a sua erradicação da face da Terra, é, pois, uma tarefa que incumbe a todos. Ninguém se pode considerar isento ou imune. Todos nós estamos chamados a dar o nosso contributo nesse sentido.
JUNTOS PODEMOS ACABAR COM A POBREZA!

Etiquetas: ,